Os fios de cor da Dª Tartaruga

Conta-nos Sérgio Bochini que havia uma aranha - demos-lhe o nome de Carlota, que os insetos também têm direito a um nome - que sonhava para os aracnídeos um futuro diferente. 

Ora, mesmo em frente do charco onde vivia, havia um cartaz que dizia: "Loja do Futuro". Aquele cartaz era uma tentação para a nossa Carlota. Até que um dia, tornou-se de brios, respirou fundo e entrou na loja.

Estava de turno ao balcão uma velha tartaruga, que ficou surpreendida com a presença de tal freguesa. Mas a aranha sem papas nas patas, foi logo direta ao assunto:

- Ando à procura da felicidade, da harmonia e da alegria, não só para mim mas para toda a minha comunidade, que desde sempre tem levado uma vida escrava, cada qual a lutar pela sua teia.

A tartaruga, ajustou os óculos para a ver melhor, mediu-a de alto a baixo e, com o lápis atrás da orelha, dirigiu-se para a secção dos objetos perdidos. Como era pessoa de vagares, levou tempo a aviar a encomenda que a aranha lhe pedia.

Por fim, lá apareceu, sempre com os óculos na ponta do nariz, com um conjunto de fios de várias cores na mão. Entregou a encomenda à aranha, sem mais latins e ia-se retirar de novo, quando a aranha a interrompeu:

- Mas para que quero eu todos estes fios, de mais a mais de várias cores?

Então a tartaruga explicou:

- O teu futuro é algo que só tu podes construir com as várias cores com que se faz a vida. O fio branco é o fio principal, o fio do quotidiano, que terás de construir dia a dia. O fio castanho é o fio dos dias sem sol, que te pedem esforço, empenho, constância e paciência. O fio vermelho, da cor do sangue, recorda-te a luta, a paixão, o sacrifício de cada dia. O fio azul, da cor do céu, é o fio da serenidade, do horizonte que te faz caminhar, da alegria de estar juntos. O fio cor de laranja é o fio da capacidade de renovar, de enfrentar os acontecimentos, de acreditar na novidade de cada dia. O fio roxo é o fio da reflexão, do silêncio, dos tempos de deserto, da meditação. O fio negro é o fio das coisas que não correm bem, das dificuldades, dos obstáculos que terás de assumir e vencer. O fio verde é o fio da primavera, da vida nova, da esperança e do futuro. Pega em todos estes fios e procura tecer o tapete da tua vida, É da combinação de todos estes fios que brotará para ti e para quantas aranhas andam pelo sótão, um futuro diferente.

Razão tinha a tartaruga.

parábolas da outra margem P. Adélio Torres Neiva