A reunião das ferramentas

20-10-2020

As ferramentas escolheram uma carpintaria para fazer a sua reunião de comunidade. 

A verdade é que era ali que todas moravam e exerciam o seu ofício: o martelo, o parafuso, o serrote, a plaina, o esquadro e até alguns membros conversos como eram a lixa e o metro.

Era uma reunião importante, pois tratava-se de fazer uma sessão para escolher o superior das ferramentas! Ora, logo que a discussão começou, aconteceu que o martelo se propôs como a ferramenta mais indicada para conduzir toda a confraria: era forte, autoritário, bom para pôr os outros no seu lugar, que era bem disso que a comunidade precisava. Mas isso foi tempo! Quem é que hoje está disposto a aceitar um superior com este perfil? Um martelo, que fazia um barulho ensurdecedor, que só estava bem a bater a torto e a direito? Não, não podia ser, o tempo da Inquisição já passou.

O martelo baixou o cabo e concordou que hoje os tempos são outros e que talvez não fosse a ferramenta mais indicada para estar à frente da comunidade. E apesar de estar convencido que era disso que a comunidade precisava, desistia de ser ele o sacrificado, mas exigia que não o fosse o parafuso, pois este andava sempre às voltas, nunca ia direito ao assunto e assim nunca se sabia de que lado é que ele estava.

Também o parafuso aceitou as reservas do martelo, mas pelo amor de Deus que não colocassem à frente do grupo o serrote, pois o serrote corta a direito, sem discernir o que é mau e o que ainda se pode aproveitar e muitos valores se perdem na comunidade das ferramentas por não haver superior que os saiba aproveitar e valorizar. 

Mas também o serrote se opunha redondamente à plaina que só toca nos problemas por fora, alisa, mas ao fim e ao cabo deixa as coisas como estão, não vai à raiz dos problemas.

Muito bem, restava a lixa. Mas não, a lixa nem pensar! É áspera, raspa sem dó nem piedade, faz as feridas sangrarem ainda mais, seria um carrasco para toda a comunidade.

Foi então que todos se voltaram para o metro. Mas aquele fuinhas de metro, que mais parecia um pau de virar tripas que uma ferramenta de respeito, sempre esticado e convencido, com a mania de medir os outros por ele, como se fosse perfeito, quem é que o queria para superior?

Estava a discussão naquele ponto, quando entrou o carpinteiro e começou o seu trabalho, ignorando toda esta briga. Pegou numas tábuas toscas, mediu-as com o metro, lixou-as com a lixa, aplainou-as com a plaina evidentemente, serrou-as com o serrote, pregou os parafusos com o martelo e daquelas tábuas toscas saiu uma bela peça de mobiliário.

Quando a carpintaria ficou vazia, iam as ferramentas recomeçar com a discussão que o carpinteiro tinha interrompido quando o esquadro, pendurado na parede, tomou a palavra e disse:

- Senhores e senhoras, ficou demonstrado que cada um de nós tem defeitos mas o carpinteiro trabalha com as nossas qualidades.

E as ferramentas perceberam então que o martelo dava força e solidez às mobílias, o parafuso unia, o serrote cortava onde era preciso, a plaina alisava as dificuldades, a lixa limava as arestas, o metro regulava as medidas. E sentiram como já há muito não sentiam, a alegria de trabalhar juntos.

Feliz a comunidade que sabe aproveitar e trabalhar com as ferramentas que tem.

parábolas da outra margem | P. Adélio Torres Neiva

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